segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

4 dias no mar






















Mais um teste neste pequeno veleiro de 23 pés. O conforto é reduzido, pois não tem grande quantidade de água, somente um reservatório de 40 litros mais um galão de 20 litros, sem geladeira e balança muito com qualquer marola quando está atracado. No primeiro dia havia uma previsão de sul para a tarde, eu aguardava este vento para ir até Araçá em Porto Belo ou talvez até São Franciso do Sul com uns 2 dias deste vento. Com outros ventos como o norte e nordeste que são predominantes na região também é possível ir, mas é bem mais demorado e cansativo. O vento chegou somente as 18 horas e preferi pernoitar numa poita na marina, pois nunca havia feito uma navegaçao noturna e não iria arriscar. No segundo dia a idéia era sair de madrugada, mas acordei as 08:30 , com um sul fraco, as 9 horas estava subindo o litoral a 3 nós para a costa esmeralda, litoral até porto belo. Na saída norte da ilha de santa catarina o vento ficou bem mais forte, com ondas de todos os lados, tornando a velejada bem desconfortável, em contrapartida era possível velejar a 7 nós sem esforço, tive até que reduzir o pano, e controlar para o veleiro não capotar. Parecia que eu estava domando um cavalo chucro. Cheguei as 3 da tarde em Cachadaço e resolvi ficar por ali mesmo pois estava bem cansado. A quantidade de veleiros, lanchas, jets, barcos de pesca é enorme, consegui um pequeno espaço para ancorar. Perto do meu estava um Samoa 29 pés que deu a volta ao mundo, o veleiro Jornal e outro de 55 pés que veio da França. Um luxo por dentro. Conversei com Vilmar e Gina, pessoal da melhor qualidade. No segundo dia pela manha estava totalmente sem ventos e comecei a me estressar por ter que fazer este exercício de paciência, ficar esperando um vento para poder se deslocar. Nosso mundo é outro, é só pegar o carro e sair. As previsões era somente de ventos nordeste fracos para a tarde. Então, planejei a viagem de retorno a Florianópolis para este dia, mas com apções de parar em Ganchos, ou Ponta das Canas, ou Ilhas Ratones, dependendo da intensidade do vento e não pretendendo viajar à noite. Saí com 2 nós de velocidade, mas pelas tres da tarde o vento ficou bem forte, velejando a 7 nós novamente, sem a genoa e no segundo rizo da mestra. Uma coisa que começou a acontecer comigo e que eu havia ido em livros e não acreditava muito é conversar com as nuvens, o vento, o barco, o mar. Parece que tudo é muito íntimo e tem vida de humanos. Conversar, dar rizadas, isto acontece mesmo !!
Novamente mar agitado, domando o veleiro e chegando em Fpolis as 19 horas. Fui até o Iate Clube Veleiros da Ilha para tentar uma vaga ou uma poita, mas não havia mais ninguém encarregado desta parte burocrática. Estava tudo lotado, vários veleiros ali estavam para ver os fogos do dia 31.12. O vento nordeste ainda estava bem forte, o que não permitia que eu fosse para a minha poita na minha marina que fica no estreito. Então resolvi soltar âncora próximo ao iate clube, mas com bastante influência do vento. Meu receio era de ser arrastado com acontecera na praia do Sonho. Ancorei com 2,20m de profundidade. As 22 horas fui dar uma conferida no sonar e estava com 1,50 m . Tentei dar uma cochilada e a meia noite começaram os fogos. Fui conferir o sonar novamente e estava com 1,30 m de profundidade para meu calado de 1.20 m, isto quer dizer que eu estava quase encalhando. Eu que havia tomado um banho com água racionada, agora estava cheio de lama ao retirar a ancora. Saí rapidamente dali para uma profundidade maior. Agora estava no canal que dá acesso ao iate clube. Então fiquei controlando os veleiros e lanchas que estavam retornando para o iate clube, pois a maioria deve ter bebido uns tragos e poderia não ver meu veleiro. Minha refeição foi pão de minuto com chocoleite. O vento parou só de manhã. Fiquei controlando isto até as 3 da manhã. As 5 acordei pois era maré alta, a máxima do dia, havia previsões de Sul e se eu rodasse poderia encalhar. Fiquei esperando o sul entrar até as 8 da manhã quando me dirigi para minha marina, só no motor. Agora era lavar o convés do veleiro com aquela água podre da bahia de Fpolis. Mas melhor do que ficar com barro no convés. Agora eu teria que ir até a marina de bote e remando, pois era primeiro do ano e era fechada. O problema que minha moto havia ficado lá dentro. Por sorte havia uma pessoa que abriu a marina para eu retornar a Criciuma. Após estes dias no mar não conseguia parar em pé, tive que me escorar, estava bem tonto, só melhorei umas 3 horas depois. Cheguei em casa final da tarde, o cansaço era tanto que tive que ingerir um relaxante para conseguir dormir até as 9 da manha do dia 02/01/2009. Não havia ninguém para eu dar ou receber feliz ano novo, os celulares desligados para economizar bateria, pois nunca se sabe o que vai acontecer. Mas foi uma experiência boa e diferente. Por enquanto a conclusão que estou chegando é que esta comunidade de velejadores e lancheiros é bem diferente da união que havia entre minhas ex comunidades de enduristas e jeepeiros. Posso dizer que depois de ter contato há um ano e meio com este pessoal que 95% são pedantes e "nariz empinado".